Ano 6 | Nr.67 | out 2021
Editorial
Experiência na primeira pessoa “Voltar a viajar em tempo de covid-19”
Voltar a viajar em tempo de Covid-19, é o tema selecionado para a primeira reunião da SPMV com retorno da opção de presença física no evento.
Não poderia ser mais feliz a escolha do tema, já que os desafios às viagens nestes tempos de covid-19 permanecem. Recentemente a Autoridade de Saúde Nacional reviu as regras relativamente à vacinação COVID-19 para viajantes com destino a países que consideram a vacinação completa segundo os esquemas aprovados pela EMA, independentemente de terem sido infetados pelo coronavírus SARS-CoV-2. Até agora, os indivíduos que tiveram COVID-19, segundo a Norma Nacional, necessitavam de um esquema vacinal de dose única, independentemente da vacina disponibilizada.
No próprio Certificado Digital Covid (CDC), e de forma a evitar más interpretações, foram produzidas alterações no documento em que o número da dose administrada (uma), coincidia com o número total de doses do esquema vacinal (uma).
No entanto esta realidade não permitiu isentar de incidentes, de dificuldades nos acessos aos voos pelos passageiros e até inibição de entrada de vários viajantes portugueses em territórios estrangeiros.
Vivi de forma direta esta experiência no passado mês de Agosto, numa viagem de lazer em famíla à Croácia. Tinhamos ultrapassado uma infeção por coronavirus SARS-CoV-2 em 2020, e já vacinados segundo a Norma da DGS com apenas uma dose de vacina de mRNA contra a COVID-19 já em 2021, emitimos segundo as regras à data em vigor os nossos Certificados Digitais COVID da UE.
Aparentemente estavamos legalmente aptos a viajar na UE, sem a necessidade de outro meio de prova de inexistência de infeção por SARS-CoV-2.
No entanto e sem que nada nos obrigasse, realizamos testagem nas 24 horas prévias por PCR à SARS-CoV-2 e fizemo-nos acompanhar pelas respetivas declarações negativas traduzidas em inglês.
Partimos do Aeroporto do Porto, via Amesterdão para Dubrovnic, e logo fomos barrados no check-in pela funcionária da companhia aérea quando nos solicitou as provas de vacinação completa ou ausência de infeção por SARS-CoV-2.
Apresentei os nossos Certificados Digitais COVID da UE, que indicavam a realização de 1/1 vacina de mRNA contra a COVID-19, pois eramos recuperados de COVID-19 e vacinados segundo a Norma DGS. Foi-nos negado o acesso ao voo, facto só ultrapassado por determos declarações de testagem PCR negativas.
O mesmo se passou na chegada à Croácia no controlo sanitário, assim como na reentrada na Croácia, após visitarmos Mostar na Bósnia Herzegovina dois dias depois. O nosso Certificado não era válido apenas com uma vacina realizada de mRNA COVID-19.
Esta revisão recentemente adicionada da realização de segunda dose de vacina aos viajantes recuperados de COVID-19 deveria ser alargada a todos os destinos para não limitar a livre circulação de viajantes.
André Silva
Enfermeiro no Centro de Vacinação Internacional do Centro Hospitalar Universitário do Porto
Atualidades na Medicina do Viajante
A recente recomendação da OMS para o uso alargado da vacina da malária RTS,S/AS01 (RTS,S) entre as crianças na África subsaariana e em outras zonas com transmissão moderada a alta de P. falciparum constituiu um marco na história da malária. A recomendação é baseada em programas piloto desenvolvidos no Gana, Quénia e Malawi e englobou mais de 80000 crianças. Neste mês de agosto foi pré-publicado no New England Journal of Medicine um estudo que concluiu que a vacina foi não inferior a quimioprevenção de malária na prevenção de malária não complicada em crianças (5- 17 meses) e em que vacina e quimioprevenção foram mais eficazes do que só uma das intervenções na redução de malária não complicada, malária grave e morte do que qualquer das intervenções isoladas. Neste estudo as crianças fizeram 3 doses de vacina separadas por 1 mês e depois uma vacina anual nos 2 anos seguintes. A eficácia protetora da vacina foi maior nos primeiros meses depois da vacinação o que pode pressupor a necessidade de booster, por exemplo anual, a preceder o pico de transmissão de malária na comunidade.
In: Chandramohan D, etal. Seasonal Malaria Vaccination with or without Seasonal Malaria Chemoprevention. N Engl J Med. 2021 Sep 9;385(11):1005-1017. doi: 10.1056/NEJMoa2026330.
EVENTOSXX Jornadas do Núcleo de Estudos da Doença VIH. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). 12 e 13 de novembro de 2021, Guimarães, Portugal.
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FICHA TÉCNICA
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