Ano 6 | Nr.68 | nov 2021
Editorial
As infeções sexualmente transmissíveis e os viajantes
A viagem sempre foi considerada um factor de risco para aquisição de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs). É um clássico dizer-se que a viagem se associa a aventura e exploração e que, longe do ambiente usual, isso é propício a que se estabeleça contacto sexual com novos parceiros e por isso aumente o risco de ISTs. Mas há viagens e viajantes que tem risco peculiarmente elevado, nomeadamente o turismo sexual para o sudeste asiático e para outros locais em desenvolvimento, os que viajam sós, os expatriados, os militares em destacamento. O uso concomitante de álcool e de outros fármacos de adição são facilitadores desse risco sexual e reduzem o uso de preservativo, tão importante na redução do risco. Excepto para os turistas sexuais a maior parte das exposições são com outros viajantes provenientes do mesmo país.
Os mais afetados são usualmente os jovens adultos e adolescentes. E nem sempre as ISTs necessitam do contacto sexual para se transmitirem, a sífilis e a infeção por vírus herpes Simplex, por exemplo, podem ocorrer por contacto íntimo pele com pele. Claramente que a internet introduziu e facilitou na última década a identificação de parceiros sexuais durante a viagem e provavelmente é hoje um dos fatores de relevo nesse risco sexual. As viagens organizadas com o intuito de fazer um circuito de festas na população de homens que fazem sexo com homens (HSH) tem muitas vezes um suporte on-line. Os surtos de hepatite A que grassaram na Europa em 2017 associados a transmissão sexual, tiveram epicentro nessas festas. Em zonas de baixa incidência de ISTs são frequentemente os viajantes os implicados na reintrodução de sífilis e linfogranuloma venéreo em áreas da Europa e América do Norte.
O aconselhamento na consulta pré-viagem quanto a ISTs é pouco frequente e pouco consistente e a evidência de que modifique o comportamento de risco é escassa. Contudo é importante que não se descure o aconselhamento e se reforce nas situações de claro maior risco. A construção de aplicações on-line que esclareçam dúvidas e objetivamente dêem informações sobre risco sexual e sua prevenção, estando disponível a toda a hora e de fácil acesso, são uma ferramenta importante a ter em consideração na mitigação deste risco.
Cândida Abreu
Presidente da SPMV
Atualidades na Medicina do Viajante
A Covid-19 continua tema dominante na literatura médica, em todas as áreas, incluindo a medicina de viagem. A administração concomitante de vacina Covid-19 com outras vacinas, nomeadamente da gripe, tem suscitado discussão. Um estudo neste mês publicado na Lancet que engloba 680 pessoas vacinadas com vacina Covid (vetorial e de RNA mensageiro) e três tipos de vacina da gripe reconhece como comuns reações ligeiras e moderadas às vacinas, semelhantes nos diferentes cohorts mas sem problemas de segurança. A resposta de anticorpos para o SARS-CoV2 e influenza foram similares nos que receberam concomitantemente as duas vacinas ou separadas mais de 14 dias.
Na ordem do dia temos a discussão da administração de vacina Covid -19 (com plataforma de mRNA) às crianças. Remeto os Colegas para a leitura do editorial publicado este mês na Science (ver publicações) .
Por último uma lembrança de que faz agora 40 anos que foi publicado o primeiro caso de SIDA, registando com muito agrado todo o avanço que se conseguiu nestes anos e que mudou em absoluto o paradigma da doença dessa primeira década.
PUBLICAÇÕES SELECCIONADAS
Ferretti A, Hedrich N, Lovey T, Vayena E, Schlagenhauf P. Mobile apps for travel medicine and ethical considerations: A systematic review. Travel Med Infect Dis. 2021 Sep-Oct;43:102143. doi: 10.1016/j.tmaid.2021.102143. Epub 2021 Jul 10. PMID: 34256131. Dao TL, Gautret P. Patterns of diseases in health students abroad: A systematic review. Travel Med Infect Dis. 2021 Jan-Feb;39:101944. doi: 10.1016/j.tmaid.2020.101944. Walker DM. Recognition and management of pediatric travel-associated infectious diseases in the emergency department. Pediatr Emerg Med Pract. 2021 Nov;18(11):1-32. Bielecki M, Patel D, Hinkelbein J, Komorowski M, Kester J, Ebrahim S, Rodriguez-Morales AJ, Memish ZA, Schlagenhauf P. Air travel and COVID-19 prevention in the pandemic and peri-pandemic period: A narrative review. Travel Med Infect Dis. 2021 Jan-Feb;39:101915. doi: 10.1016/j.tmaid.2020.101915. Epub 2020 Nov 10. Lazarus R et al. Safety and immunogenicity of concomitant administration of COVID-19 vaccines (ChAdOx1 or BNT162b2) with seasonal influenza vaccines in adults in the UK (ComFluCOV): A multicentre, randomised, controlled, phase 4 trial. Lancet 2021 Nov 11; [e-pub]. (https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02329-1) Gerber JS, Offit PA. COVID-19 vaccines for children. Science. 2021 Nov 19;374(6570):913. doi: 10.1126/science.abn2566. Epub 2021 Nov 18. PMID: 34793207.
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FICHA TÉCNICA
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As infeções sexualmente transmsissíveis e os viajantes