Ano 10| Nr.91 |jan 2025

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Editorial

Caros sócios, colegas e amigos,

O início de um novo ano convida-nos sempre à reflexão e à renovação. Mas 2025 é ainda mais especial para todos nós: a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante celebra 10 anos de existência!

Ao longo desta década, com o contributo de todos, crescemos juntos, fortalecemos a nossa rede de partilha e consolidamos a Medicina do Viajante como uma área essencial da Saúde Global. Este é um marco que queremos celebrar com todos, recordando o caminho percorrido e olhando para o futuro com ambição renovada. 

Vivemos tempos de transformação, em que a mobilidade humana, mudanças climáticas, conflitos armados e novas ameaças à saúde internacional exigem de todos nós uma abordagem dinâmica, multidisciplinar e colaborativa.

Em 2024, assistimos a avanços importantes, desde o fortalecimento das redes internacionais de vigilância epidemiológica à incorporação de novas tecnologias na prevenção de doenças associadas às viagens. No entanto, também enfrentámos desafios, como a necessidade de um modelo estruturado a nível nacional/regional/local e algumas ameaças, de que são exemplos os movimentos anti-vacinas e de hesitação vacinal, aumento da resistência antimicrobiana e as desigualdades no acesso à saúde preventiva. Neste enquadramento, o conhecimento e a partilha de experiências tornaram-se mais essenciais do que nunca. 

Como sociedade científica, temos a responsabilidade de nos mantermos na vanguarda, promovendo formação de excelência, incentivando investigação inovadora e garantindo uma comunicação eficaz e de qualidade. E é por isso que queremos ir mais longe!

Em 2025, queremos estar ainda mais próximos dos nossos sócios, viajantes, parceiros e comunidade científica, fomentando o envolvimento de todos na nossa missão. Ao longo deste ano, lançaremos desafios e atividades que procurem estimular e desafiar a participação de todos. Contamos convosco para fazer destes 10 anos um ponto de partida para um futuro ainda mais forte!

E para tal, o nosso compromisso mantém-se firme: fortalecer a cooperação entre os nossos membros, impulsionar o desenvolvimento científico e consolidar a Medicina do Viajante em Portugal. 

A nossa Reunião Científica Anual, o Workshop de Vacinas, cursos locais de proximidade com curta duração e a Newsletter, continuarão a ser pilares fundamentais para a atualização e evolução da nossa área. Retomaremos as publicações nas nossas redes sociais, procurando inovar e promover a partilha de conhecimento de uma forma acessível e dinâmica. Mas também queremos crescer, e por isso temos por ambição, reforçar a nossa presença a nível internacional e estreitar laços com outras sociedades científicas e áreas do conhecimento.

Em nome da Direção da SPMV, agradeço o empenho e dedicação de todos vós, que diariamente contribuem para o crescimento da nossa sociedade e para a segurança e bem-estar dos viajantes internacionais.

Que este ano especial nos traga desafios que nos inspirem, oportunidades que nos motivem e conquistas que nos orgulhem.

Que juntos celebremos os 10 anos da SPMV e preparemos um futuro ainda mais forte e promissor!

 

Gabriela Saldanha

Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante

 

 

Doenças Tropicais Negligenciadas: Um Convite à Cooperação

As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) são doenças transmissíveis que predominam nos regiões tropicais e subtropicais, afetando mais de mil milhões de pessoas a nível mundial. Este grupo heterogéneo, composto por vinte doenças — entre as quais se incluem a doença de Chagas, dengue, chikungunya, leishmaniose, filaríase linfática, doença de Hansen, raiva e schistosomíase — afetam principalmente populações em situação de pobreza e em contacto próximo com vetores. Estas doenças não só causam elevada morbilidade, como também contribuem para o estigma social e agravam as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde.

Embora historicamente negligenciadas pela investigação científica, todas as DTNs podem ser prevenidas, controladas e, em última instância, erradicadas. Este objetivo tem sido reforçado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no documento ’Ending NTDs: Together Towards 2030 – New Road Map for Neglected Tropical Diseases 2021−2030’, publicado em 2023.

DTNs: Um Desafio em expansão

A crescente mobilidade global, impulsionada por viagens internacionais, migrações e comércio, aliada a fatores como as alterações climáticas, está a transformar o panorama da Saúde Global. Doenças anteriormente erradicadas em determinadas regiões ou historicamente confinadas a áreas tropicais estão a ressurgir. A Dengue é um exemplo paradigmático desta realidade, com um aumento significativo dos casos importados e do número de surtos locais, conforme alertas do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) em 2024.

A experiência do serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA) com a lepra, ou doença de Hansen, ilustra bem esta mudança epidemiológica. Erradicada em Portugal desde 1970, tem-se verificado uma mudança epidemiológica no contexto da globalização e das atuais dinâmicas migratórias, resultando num aumento da incidência de casos importados. Entre 2014 e 2024, foram registados cinco casos no nosso centro, três dos quais nos últimos três anos — com um novo caso diagnosticado anualmente. Tal como na doença de Hansen, várias outras infeções estão a emergir como diagnósticos relevantes  em doentes provenientes de áreas endémicos, sem que existam, muitas vezes, as ferramentas adequadas para o seu diagnóstico atempado e abordagem terapêutica eficaz.

Os principais desafios identificados nesta revisão incluem:

  • Atraso no diagnóstico, muitas vezes devido ao desconhecimento clínico e à inespecificidade dos sintomas iniciais;
  • Experiência limitada no tratamento da doença e das suas complicações, dificultando uma resposta eficaz e atualizada;
  • Persistência do estigma social, que impacta negativamente a adesão ao tratamento e a integração dos doentes.

DTNs: Uma Oportunidade para Fortalecer a Cooperação Internacional

E se deixarmos de encarar as DTNs apenas como um problema distante e começarmos a vê-las como um desafio comum, que sublinha a necessidade de cooperação internacional para enfrentar riscos globais em saúde?

Incentivar parcerias entre países endémicos e não endémicos pode impulsionar o desenvolvimento de projetos bilaterais, incluindo iniciativas de telemedicina, programas de formação médica, intercâmbio de experiências clínicas e partilha de dados epidemiológicos. Estas ações não só promovem a capacitação dos profissionais de saúde, como também constituem ferramentas fundamentais para a melhoria da resposta clínica em contextos onde a experiência com estas patologias é limitada.

Por onde começar?

Existem já iniciativas estratégicas que podem servir de base para reforçar esta cooperação. Destacam-se:

  • Plano Estratégico de Cooperação em Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (PECS 2023-2027), que visa a partilha de conhecimento e o desenvolvimento de capacidades na área da saúde.
  • Memorando assinado a 18 de novembro de 2024, em Lisboa, entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Secretariado Executivo da CPLP. Este acordo representa um passo fundamental para o fortalecimento da colaboração internacional na área da saúde, em particular entre os países lusófonos.

Como podemos agir? 

A Medicina do Viajante surge como uma área estratégica, que vai além das medidas de proteção essenciais para os viajantes, assumindo um papel fundamental na promoção da Saúde Global. Esta disciplina tem o potencial de construir pontes internacionais, promovendo a união entre o conhecimento local e as melhores práticas globais, para benefício coletivo, tornando-nos mais preparados para enfrentar os desafios do futuro.

Fica o desafio para 2025.

Joana Vaz Cardoso

Médica interna de formação específica em Doenças Infecciosas (Centro Hospitalar Universitário de Santo António, Porto)

Referências bibliográficas:

"A antiguidade contra-ataca: uma série de casos de doença de Hansen num hospital terciário" Ferreira F, Vaz-Cardoso J, Nogueira D, Alves M, Furtado I., Abreu M., Vasconcelos A. - poster apresentado no XVI Congresso Nacional de Doenças Infeciosas e Microbiologia Clínica (novembro 2024).

Fiocruz firma cooperação internacional em saúde com ABC e CPLP

Global report on neglected tropical diseases 2023 (OMS)

 

 

A SPMV está de volta ao LinkedIn e Instagram!

A Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante (SPMV) tem o prazer de informar que retomamos a nossa atividade no LinkedIn e no Instagram. Após a resolução de alguns problemas técnicos, voltamos a estar presentes nestas plataformas para continuar a partilhar conhecimento e atualizações relevantes na área da Medicina do Viajante.

Convidamos todos os nossos sócios a acompanhar as publicações, que incluirão informações científicas, recomendações atualizadas, eventos e iniciativas de formação.

Contamos com a vossa participação e apoio nesta nova fase!

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FICHA TÉCNICA

Direção da SPMV 2024-2026

Dr.ª Gabriela de Lacerda Saldanha
Médica de Saúde Pública
Autoridade de Saúde Coordenadora da USP Baixo Tâmega - ULS Tâmega e Sousa
CVI Porto- ULS Santo António
Presidente


Prof. Doutor Nuno Marques
Médico Infeciologista
Vogal Executivo do CA da ULS da Arrábida
Vice-Presidente

Dr.ª Sandra Xará
Médica Infeciologista
Coordenadora do CVI Hospitalar da ULS Santo António
Secretária-Geral

Enf. André Silva
Enfermeiro Saúde Comunitária
Responsável do CVI Hospitalar da ULS Santo António
Vogal Tesoureiro

Dr. Davy Fernandes
Médico de Saúde Pública
Autoridade de Saúde da USP Baixo Tâmega - ULS Tâmega e Sousa
CVI Porto - ULS Santo António
Vogal Secretário

Mesa da Assembleia Geral 

Profª. Doutora Cândida Abreu
Médica Infeciologista
ULS São João
Presidente

Dr. Luís Trindade
Médico Infeciologista
ULS Coimbra
Vice-Presidente

Dr. Ismael Selemane
Médico de Saúde Pública
ULS Litoral Alentejano
Secretário

 

 

Conselho Fiscal 

Prof. Doutor Luís Varandas
Médico Pediatra
ULS São José
Presidente

Dr.ª Sueila Martins
Médica Infeciologista
ULS Trás-os-Montes e Alto Douro
Vice-Presidente

Enf.ª Alice Manuela Pinto
Enfermeira Saúde Comunitária
Serviços de Saúde e de Gestão da Segurança no Trabalho da Universidade de Coimbra
Vogal

  

 

 

 

 

Supervisão e apoio Técnico Informático

SIMPOSIUM DIGITAL

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