EDITORIAL
Doença invasiva meningocócica e emergência dos grupos Y e W
Em Portugal, a incidência de doença invasiva meningocócica (DIM), diminuiu de forma significativa após introdução da vacina Men C de forma universal e gratuita no PNV, em 2006. Na Europa, em termos globais, a DIM também diminuiu nas últimas duas décadas, muito à custa dos grupos C e B. Em sentido contrário o grupo Y tem vindo a aumentar de forma lenta, mas progressiva, desde 2002 e, desde 2012, assistimos a um aumento exponencial da incidência do grupo W (https://ecdc.europa.eu).
O grupo B é responsável por cerca de 50% dos casos e, em conjunto, os grupos W e Y representam cerca de 30% dos casos. A taxa de notificação de DIM, na Europa, desceu de 1.6/100.000 habitantes em 2000 para 0.6 em 2017. Portugal tem acompanhado esta tendência europeia, com redução global da incidência da doença.
Os dados de outras regiões do mundo mostram redução muito importante do grupo A no “cinturão da meningite” africano, após as campanhas e vacinação em massa contra este grupo, passando a predominar os grupos C, X e W. Na Austrália e Nova Zelândia observa-se um aumento relativo, mas significativo, do grupo W assim como em algumas regiões do continente sul-americano.
Apesar de todos os grupos etários serem atingidos, a idade pediátrica é claramente a de maior incidência, sobretudo abaixo dos cinco anos de idade e na adolescência. Os quadros clínicos clássicos de sepsis e/ou meningite são os que predominam. No entanto, o grupo W apresenta-se por vezes de forma atípica, com queixas gastrintestinais, e a taxa de letalidade é significativamente superior ao grupo B.
A introdução no mercado das vacinas contra o grupo B de N. meningitidis poderia contribuir para uma redução adicional da doença se administradas em âmbito de PNV. Os dados do Reino Unido e de Portugal mostram uma efetividade global de cerca de 82%. A sua introdução no PNV, em Portugal, foi decidida na Assembleia da República, em 2018, mas só deverá acontecer no próximo ano de 2020.
O aumento do número de casos dos grupos W e Y levou a que vários países na Europa (p. ex. Reino Unido, Holanda, Lituânia, Itália, Grécia, Espanha), e noutras regiões (p. ex. Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Chile) recomendem a administração universal da vacina tetravalente conjugada aos 12-14 meses e na adolescência.
Em Portugal, nos últimos dois anos, o grupo mais frequente foi o B, seguido pelos W, Y e C. A administração da vacina meningocócica conjugada tetravalente aos 12 meses de idade dispensa a vacina Men C do PNV. A evolução epidemiológica na Europa e em Portugal observada nos últimos anos poderá vir a justificar a sua introdução no PNV. No âmbito da Medicina do Viajante, recomenda-se a sua administração em viagens de longa duração ou na presença de surtos.
Dinarte Nuno Viveiros, Luís Varandas
Grupo de Vacinas, SPMV
Continuam ainda abertas as inscrições para o III Workshop Vacinas no Viajante e IV Reunião Científica da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante vai decorrer a 10 e 11 de outubro de 2019, no Auditório da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa (ESTeSL) em Lisboa. Programa disponível em: http://spmv.simposium.pt/reuni%C3%B5es-cient%C3%ADficas/ Inscrições através do formulário online em: https://forms.gle/CKkuJNpr3hGdC6HJA |
ATUALIDADES NA MV
Continua o surto de Ébola na Republica Democrática do Congo, províncias de Norte Kivu, Sul Kivu e Ituri com um número cumulativo de 3.128 casos dos quais 3.017 confirmados e 2.095 mortes até meados de Setembro. Contudo e de acordo com o último Boletim da Organização Mundial de Saúde há uma queda no surgimento de novos casos, num surto que já tem 13 meses de duração.
O surto de rubéola no Japão continua a grassar. Até 4 setembro o Instituto Nacional de Doenças Infeciosas do Japão reportou 2.156 casos durante o ano de 2019. Destes casos 37% foram diagnosticados na cidade de Tokyo.
Um surto de bactérias portadoras de NDM-1 (New Delhi metallo-beta-lactamase 1) foi identificado na Tuscânia, Itália, infectando pelo menos 75 pessoas e provocou a morte a 31 doentes em vários hospitais da área. A resistência aos antibióticos carbapenemes torna estas bactérias perigosas em especial para os doentes mais vulneráveis e imunossuprimidos. Os hospitais na região instituiram medidas para a prevenção e controlo da infeção nas instituições de saúde.
PUBLICAÇÕES RECENTESHepatitis A vaccine immunogenicity in patients using immunosuppressive drugs: A systematic review and meta-analysis. Risk of antibiotic resistant meningococcal infections in Hajj pilgrims. Determinants of Compliance of Travelers with Vaccination and Malaria Prophylaxis at a Travel Clinic. Malaria prevention in the older traveller: A systematic review ‘More than devastating’—patient experiences and neurological sequelae of Japanese Encephalitis |
REUNIÕES CIENTÍFICAS16º Encontro Nacional de Atualização em Infeciologia, 13th Asia Pacific Travel Health Conference (APTHC), 18-21 March 2020, Auckland, New Zealand ISTM Latin American Regional Meeting (RCISTM8), 21-23 May, 2020, Buenos Aires, Argentina Northern European Conference on Travel Medicine 2020 (NECTM8) 3-5 June, Rotterdam, The Netherlands XII Havana Course in Tropical and Travel Medicine 2020 (HCTTM-13), 2-5 March, 2020, Havana, Cuba |
FICHA TÉCNICA
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