Ano 4 | Nr.52 | novembro 2019
EDITORIAL
Poluição e Viagens
A poluição do ar é um problema global, que não só afeta os residentes de uma dada região, mas também os viajantes que para aí se deslocam. São bem conhecidos os exemplos de Pequim – minimizados durante os Jogos Olímpicos de 2008 – e, recentemente, as semanas em que Nova Delhi esteve envolvida num espesso manto poluente.
Os poluentes atmosféricos são gasosos - monóxido de carbono (CO), dióxido de azoto (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e ozono ao nível do solo – e sólidos, em partículas de diferentes tamanhos e provenientes de diferentes fontes - o material, ou matéria particulada (do inglês particulate matter (PM10 ou PM2.5, referentes aos diâmetros das partículas, em nanómetros)). O chumbo, depois da introdução da gasolina sem chumbo, deixou de ser um risco importante, exceto nos 5 países onde essa gasolina é ainda utilizada: Afeganistão, Iémen, Coreia do Norte, para onde raramente teremos viajantes, mas também Argélia, Iraque e Mianmar, destinos de trabalho e de turismo para alguns portugueses. Todos estes poluentes coexistem, em concentrações diferentes para diferentes áreas, e a sua inalação pode exacerbar os sintomas de doenças cardíacas e respiratórias, e desencadear ou agravar situações alérgicas. Os viajantes de longo prazo estão em maior risco e necessitam de aconselhamento sobre como gerir sintomas e sinais de exacerbações e conhecer as formas de acesso à assistência médica local. Estudos têm demonstrado que a exposição a temperatura e humidade elevadas está associada ao agravamento dos sintomas de DPOC e asma.
O Índice de Qualidade do Ar (AQI, Air Quality Index), um índice de pontuação baseado na concentração de poluentes numa determinada área, (< 50=boa qualidade do ar, >100 má qualidade, >300 ar perigoso), deve obrigar os viajantes a ajustarem o seu nível de atividade e do tempo passado ao ar livre. Por exemplo, pacientes com doença cardíaca que visitem uma cidade com um AQI de 101 - 150 devem reduzir o tempo que passam ao ar livre. A utilização de certos tipos de máscaras faciais, tais como as máscaras N95 ou R95, podem servir para filtrar muitos dos poluentes do ar ambiente. Estas máscaras são úteis para todos os viajantes, mas mais indicadas para o viajante com DPOC e/ou doença cardiovascular. A Agência Europeia do Ambiente tem um mapa online interativo que quantifica a qualidade do ar local em toda a Europa com base na medição de cinco principais poluentes (http://airindex.eea.europa.eu/) . Outras recomendações médicas relacionadas com a má qualidade do ar para os viajantes com doença respiratória, incluem ainda: a) vacinações: vacina contra a gripe sazonal, vacina anti-pneumocócica, vacina contra a hepatite B; e b) medicamentos: para além dos medicamentos habituais, devemos considerara necessidade de prescrever broncodilatadores, corticosteroides orais e antibióticos.
Para o aconselhamento de viajantes de risco para viagens a zonas com elevada poluição atmosférica existem algumas excelentes fontes de informação, como sejam a página web da Airvisual (https://www.airvisual.com/), que quantifica a qualidade do ar em todos os países do mundo, em AQI e PM2.5) ou a página da Breathelife, em https://breathelife2030.org/. Estas são ferramentas que devemos ter ao nosso alcance quando necessitamos de avaliar o risco de poluição nos destinos dos nossos viajantes.
Jorge Atouguia,
Presidente da Direção da SPMV
ATUALIDADES NA MV
Desde o início do mês de outubro, está disponível nas farmácias a vacina atenuada oral contra a febre tifóide, de nome comercial Vivotif®. Está indicada para crianças e adultos a partir dos 5 anos, em todos com o mesmo esquema posológico (1, 3 e 5 dias). Esta oferta veio reforçar as opções de imunização contra a febre tifóide, que anteriormente podia ser administrada com a vacina inativada intramuscular (TYPHIM Vi®) ou em associação à vacina da hepatite A (Viatim®).
Um jovem adulto espanhol poderá ser o primeiro caso mundial de transmissão sexual do vírus Dengue. O diagnóstico foi feito em Madrid, no Hospital Ramón e Cajal, de acordo com o Diretor de Serviço de Doenças Infeciosas, Santiago Moreno. O doente não terá viajado para nenhum país de risco, nem esteve presente em nenhuma das regiões espanholas onde já foi confirmada pela primeira vez, em 2018, a transmissão autóctone de Dengue tendo como vetor o mosquito Aedes albopictus.
Na República Democrática do Congo e desde o início do surto em 2018, foram reportados 3.287 casos de Ébola, com 3.169 casos confirmados que resultaram em 2.193 óbitos. Este surto afeta três províncias da RDC – Nord-Kivu, Ituri e South-Kivu, não havendo registo de casos confirmados fora destas províncias. Atualmente, o número de novos casos tem vindo a baixar, mas dificuldades de acesso e segurança têm dificultado a capacidade de resposta a este surto.
PUBLICAÇÕES SELECIONADAS
Exposure to air pollution is associated with adverse cardiopulmonary health effects in international travellers. Every breath you take: how does air pollution affect the international traveller? Does air pollution contribute to travelers' illness and deaths?-evidence from a case report and need for further studies. Vilcassim MJR, Gordon T, Sanford CA. Dengue vaccine development: status and future. Wilder-Smith A. Bundesgesundheitsblatt Gesundheitsforschung Gesundheitsschutz. 2019 Nov 29. Development and Testing of a Clinical Practice Framework for Pharmacists to Assess Patients' Travel-Related Risks: The 5W Approach to Travel Risk Identification.Fernandes HVJ, Houle SKD. The risk and prevention of venous thromboembolism in the pregnant traveler. Karsanji DJ, Bates SM, Skeith L. The first case of sexual transmission of dengue in Spain. Liew CH. |
REUNIÕES CIENTÍFICAS
12.as Jornadas de Atualização em Doenças Infeciosas do Hospital de Curry Cabral 13th Asia Pacific Travel Health Conference (APTHC), 18-21 March 2020, Auckland, New Zealand ISTM Latin American Regional Meeting (RCISTM8), 21-23 May, 2020, Buenos Aires, Argentina Northern European Conference on Travel Medicine 2020 (NECTM8) 3-5 June, Rotterdam, The Netherlands XII Havana Course in Tropical and Travel Medicine 2020 (HCTTM-13), 2-5 March, 2020, Havana, Cuba |
FICHA TÉCNICA
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