Ano 7| Nr.74| maio 2022
Editorial
Doença de Altitude
As montanhas têm sido uma fonte de inspiração para diferentes culturas e sociedades desde tempos imemoriais. Atualmente, existe uma grande procura dos ambientes de montanha para atividades de recreação, lazer e turismo. Estima-se que o turismo de montanha possa representar entre 15-20% do mercado turístico global. O contacto com os ecossistemas de montanha está associado, em muitos casos, à exposição aguda à altitude. Em altitudes superiores a 2000 metros, ocorrem adaptações fisiológicos agudas associados a esta exposição que se repercutem numa alteração significativa do funcionamento do organismo. O aumento da altitude está associado a uma diminuição da pressão barométrica e, consequentemente, da pressão parcial de oxigénio no ar atmosférico (PO2). Estas alterações na composição do ar atmosférico levam a uma condição de hipoxia-hipobárica, associada a uma diminuição do aporte de oxigénios aos tecidos. Por exemplo, a 5800 metros a PO2 é cerca de metade da encontrada ao nível do mar.
Cerca de 20% dos indivíduos que ascendem diretamente aos 2500 metros e 40% dos que o fazem a 3000 metros, desenvolvem uma condição de Mal Agudo de Montanha (MAM). Apesar de muitos anos de investigação dedicada ao estudo desta condição, os seus mecanismos patofisiológicos permanecem desconhecidos. O MAM é caraterizado por um conjunto de alterações e sintomas, como cefaleias, tonturas, náuseas, fraqueza, vómitos e insónias. Os sintomas começam a manifestar-se cerca de 6 horas após a ascensão, podendo agravar-se até às 24 horas, e na maioria dos casos diminuindo nas 48 horas seguintes. O ritmo e intensidade da ascensão, a altitude máxima alcançada e a altitude a que se pernoita são alguns dos fatores que mais influencia o desenvolvimento do quadro de MAM. Adicionalmente, existe uma grande variabilidade interindividual na suscetibilidade ao desenvolvimento de MAM. De facto, características como o género, idade e nível de aptidão cardiorrespiratória não parecem estar relacionadas com a probabilidade de se vir a desenvolver um quadro de MAM. Na verdade, um nível de aptidão física elevado não é considerado um fator de proteção para esta condição, embora possibilite uma maior intensidade de exercício em altitude. Um dos principais fatores associados a uma menor probabilidade de desenvolvimento de MAM é a sensibilidade dos quimiorrecetores periféricos às variações da PO2. Uma maior sensibilidade traduz-se num aumento da ventilação por minuto e um consequente aumento da pressão parcial do oxigénio no sangue arterial.
As principais estratégias de prevenção do desenvolvimento de MAM passam por estabelecer um ritmo de ascensão diário que não seja superior a 500 metros; garantir uma hidratação adequada; evitar o consumo de álcool; e a administração de acetazolamida como estratégia profilática.
Jorge Beleza
PhD, Fisiologista de Montanha
Atualidades na Medicina do Viajante
Hepatite Aguda Viral
Em 5 de abril de 2022, a Escócia notificou a OMS relativamente à identificação de 10 casos de hepatite de etiologia desconhecida, em crianças com idade compreendida entre os 11 meses e os 5 anos. Nove casos tiveram início de sintomas em março de 2022 e um teve início em janeiro de 2022. Os sintomas incluíram icterícia, diarreia, vómito e dor abdominal. De acordo com a Public Health Scotland, anualmente, cerca de 7 ou 8 casos de hepatite não A-E (sem outros diagnósticos subjacentes) são detetados em crianças na Escócia. Mais referiram que o número de casos num período de tempo tão curto, combinado com a disseminação geográfica e gravidade da doença, em alguns casos, é incomum, sendo necessária investigação.
Até 10 de maio, o número total de casos reportados em todo o mundo é de aproximadamente 450, incluindo 11 óbitos reportados pela Indonésia [5], Palestina [1] e Estados Unidos da América [5]. Nos países da UE/EEE, foram reportados aproximadamente 105 casos em 13 países.
Ainda não está claro se os casos identificados após o alerta inicial fazem parte de um aumento real, comparativamente com a taxa basal de hepatite de etiologia desconhecida em crianças.
Dengue em São Tomé e Príncipe
Em 23 de abril de 2022, foi noticiada a ocorrência de casos de dengue, pela primeira vez em São Tomé e Príncipe, tendo sido confirmado a 4 de maio, um surto de dengue no país, com pelo 30 casos confirmados laboratorialmente.
O primeiro caso suspeito terá sido detetado a 11 de abril, correspondendo ao serotipo DENV3. Os casos terão sido notificados nos distritos de Água Grande, Mézóchi, Cantagalo, Lobata e na Região Autónoma do Príncipe, sendo que apenas nos distritos de Caué e Lembá não foram ainda notificados casos.
Muitos outros casos suspeitos estão atualmente em investigação e aguardam confirmação laboratorial.
Monkeypox na Europa
Em 7 de maio de 2022, a UK Health Security Agency lançou um alerta e informou sobre a identificação de um caso de Monkeypox num indivíduo com história de viagem recente à Nigéria, país onde as autoridades de saúde acreditam que terá sido infetado, previamente ao regresso ao Reino Unido.
Desde então, as Autoridades de Saúde dos diferentes países europeus têm estado especialmente atentos no sentido de identificar e diagnosticar precocemente outros possíveis casos.
Em Portugal, desde 3 de maio têm estado a ser identificadas, em consultas abertas de infeções sexualmente transmissíveis (IST) na região de Lisboa e Vale do Tejo, lesões ulcerativas perianais, perigenitais e genitais em homens que fazem sexo com homens (HSH), na maioria jovens.
O alerta foi detetado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que centralizará, nesta fase, todas as ações de deteção, avaliação, gestão e comunicação de risco relacionadas com este surto, através do Centro de Emergências em Saúde Pública (CESP).
Estão confirmados 37 casos da doença em Portugal, havendo outros casos suspeitos em investigação
FICHA TÉCNICA
|