Ano 7| Nr.79 | out 2022
Editorial
Infeção Humana por Vírus Monkeypox e Viagens Internacionais
O Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de infeção humana por vírus Monkeypox (VMPX), um Orthopoxvirus da família Poxviridae, como Emergência de Saúde Pública de âmbito internacional em julho de 2022.
A infeção em humanos por este vírus zoonótico, foi a primeira vez identificada em 1970 na República Democrática do Congo, num lactente. Desde aí a maior parte dos casos tem sido reportada em zonas rurais de floresta da bacia do Congo e os casos em seres humanos têm sido diagnosticados de forma crescente na África Ocidental e Central. Desde 2017 a Nigéria teve um surto com mais de 500 casos suspeitos e mais de 200 confirmados, com taxa de fatalidade de cerca de 3%.
Desde o início do ano e até 6 de outubro de 2022, foram reportados 71.237 casos confirmados e 1097 casos prováveis de infeção humana por VMPX, com um total de 26 óbitos, nas 6 regiões da OMS. Desde maio de 2022, um grande número destes casos refere-se a países sem transmissão documentada de infeção humana por VMPX prévia. Até à data, os países mais afetados são os Estados Unidos da América (n= 26.723), Brasil (n= 8.147), Espanha (n= 7.209), França (n= 4.043), Reino Unido (n= 3.654), Alemanha (n= 3.640), Peru (n= 2.587), Colômbia (n= 2.453), México (n= 1.968), e Canadá (n = 1.400). Foram identificados 930 casos confirmados em Portugal. Excetuando os países de África Ocidental e Central, o atual surto continua a afetar sobretudo homens que têm sexo com homens e que reportam atividade sexual recente com um ou múltiplos parceiros. O contágio entre seres humanos resulta de contacto com lesões cutâneas de uma pessoa infetada, contacto próximo com secreções respiratórias ou com objetos recentemente contaminados. No momento presente não parece existir transmissão sustentável fora destes contextos, não obstante possa existir transmissão a trabalhadores de saúde, conviventes da mesma casa e outros contatos próximos de casos de doença.
A infeção humana por VMPX possui semelhanças com formas ligeiras de varíola e tipicamente apresenta-se com febre, exantema (nos genitais e face, olhos, boca, mãos, pés, corpo/tronco) e adenomegalias, sendo autolimitada na maioria das situações, podendo ter complicações e apresentações mais graves.
Os sintomas habitualmente iniciam-se 6 a 13 dias (podendo ser de 5 a 21 dias) após exposição ao vírus e o período de transmissão habitualmente ocorre desde o início de sintomas até à resolução das lesões (2 a 4 semanas).
Os viajantes deverão estar conscientes do risco de infeção humana por VMPX, especialmente a comunidade GBHSH (gays, bissexuais e homens que fazem sexo com homens). Recomenda-se a prática de sexo seguro e evicção de contacto íntimo, incluindo contacto sexual, com pessoas que se encontrem com sinais e/ou sintomas de infeção humana por VMPX. Se o viajante testar positivo ou estiver em contacto próximo com um caso de infeção humana por VMPX durante uma viagem internacional, poderá estar sujeito a medidas de Saúde Pública e à legislação r, as quais podem incluir isolamento e impossibilidade de viajar até se considerar que o mesmo não possui risco de desenvolver infeção e ser potencialmente transmissor.
Os viajantes que desenvolvam sinais e/ou sintomas até 21 dias após viagem ou contacto com pessoa com infeção humana por VMPX deverão procurar assistência médica.
A vacina MVA-BN (Vacina de vírus Vaccinia Ankara, modificado vivo) é, no momento, a vacina autorizada para prevenção de varíola e de infeção humana por VMPX em adultos. A vacina tem indicação preventiva em grupos com risco acrescido de infeção humana por VMPX, e na pós-exposição a contactos de casos de infeção humana por VMPX, conforme Norma n.º 006/2022 de 12/07/2022 da Direção-Geral da Saúde, atualizada a 20/09/2022.
Um antivírico desenvolvido para tratamento da varíola (Tecovirimat) foi recentemente licenciado pela European Medicines Agency (EMA) para o tratamento de infeção humana por VMPX.
Gabriela Saldanha1 2 Clarisse Martinho1
1 Unidade de Saúde Publica do Agrupamento de Centro de Saúde Baixo Tâmega
2 Centro de Vacinação Internacional do Porto
Atualidades na Medicina do Viajante
Ébola no Uganda
Nos últimos 10 anos é a primeira vez que a estirpe Ébola-Sudão emerge no Uganda.
Desde 28 de setembro o Ministério da Saúde declarou 55 casos confirmados e 19 mortes. O controlo da situação tem sido difícil por várias razões e, entre elas, porque as pessoas continuam a procurar os curandeiros tradicionais e querem os rituais de morte tradicionais
De entre os afetados 5 trabalhadores de saúde recuperaram da doença com tratamento com remdesivir e anticorpos monoclonais não especificados; 4 outros morreram.
A OMS está a tenta à possibilidade de disseminação do surto estando já 5 distritos do Uganda em alto risco da doença e outro 10 distritos em risco elevado
Doença meningocócica causada pelo serotipo C em S Paulo, Brasil
Foram reportados 5 casos no estado de S Paulo durante o mês de setembro.
Contudo não são conhecidos nem a idade dos casos nem o status vacinal; também não é dito se foi feito estudo molecular, para assegurar que estão geneticamente ligados. Também não se sabe se pertencem a grupos de risco elevado como estudantes universitários a viver em dormitórios, homens que fazem sexo com homens, pessoas com contactos próximos com os que pertencem a grupos de risco ou se há outras ligações epidemiológicas.
Tem sido reforçada a vacinação meningocócica C das crianças até aos 10 anos que não a tenham efetuado e a trabalhadores de saúde. Temporariamente tem sido oferecida aos jovens dos 11 aos 14 anos a vacina meningocócica conjugada ACWY aos que não tinham sido vacinados com a vacina meningocócica C.
REUNIÕES CIENTÍFICAS 1. 22.º Congresso Nacional de Pediatria, 26 a 28 de outubro de 2022, Porto, Portugal. 2. III Congresso Nacional de Médicos de Saúde Pública, 2 a 4 de novembro de 2022, Portalegre, Portugal. 3. 15th European Public Health Conference 2022, 9 a 12 de novembro de 2022, Berlin, Alemanha. 4. V Jornadas Temáticas de Infeciologia, 23 a 25 de março de 2023, Sesimbra, Portugal.
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FICHA TÉCNICA
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