Ano 8| Nr.83 | fev 2023
Editorial
Perspetiva do viajante para destinos intrépidos
Viajar para os recantos mais escondidos do globo é o El Dorado do viajante intrépido. Os destinos mais genuínos e menos abraçados pela globalização dão trabalho, são monetariamente mais exigentes e as condições de conforto e de salubridade são mais desafiantes. No entanto valem todo o sacrifício. Relativamente aos riscos para o viajante, conforme o território explorado, os desafios são muito distintos. Antes da viagem é importante fazer um seguro com uma cobertura de desportos considerados radicais, por exemplo mergulho recreativo, surf ou escalada acima dos 3600m. Ler as entrelinhas do seguro e procurar esses detalhes faz toda a diferença porque viajamos com a expectativa de estarmos segurados e sem contarmos, as despesas médicas podem assumir valores para os quais não estamos habituados, já que tudo poderá ter de ser pago na íntegra. Nesta análise é também importante perceber se o seguro abrange resgate por meios aéreos para situações mais graves. Por exemplo, na nossa viagem para a Papua Nova Guiné, com o objetivo de fazer mergulho, além das coberturas, foi importante percebermos onde era o hospital mais próximo com câmara hiperbárica, neste caso a mais de 2 horas de avião das ilhas onde nos baseamos. A tal distância é importante não cometermos riscos desnecessários porque o preço pode ser demasiado elevado. Em terra, o planeamento cuidado na consulta do viajante assume-se como o passo mais importante já que existem zonas em que, por exemplo, a prevalência de malária é de risco muito elevado e são necessárias medidas preventivas. Numa ilha mais isolada, também é importante saber se existe alguma unidade de saúde local e que tipo de assistência que nos podem providenciar. É um exercício que já fazemos automaticamente e demora apenas alguns minutos. Na mala alguns medicamentos são cruciais, quando visitamos um local tão isolado. Levamos todos os que são aconselhados na consulta e também desinfetantes e compressas esterilizadas, que podem ser uteis em caso de queda de mota ou cortes no coral ao surfar, que podem ser profundos e graves. Nestes destinos, um dos piores inimigos é a segurança alimentar, já que a cadeia de frio dos alimentos pode ser precária. Em diversas regiões as falhas de energia podem durar horas ou trabalharem com geradores que funcionam um tempo limitado. A nossa estratégia para prevenir situações destas é a escolha criteriosa de restaurantes e alimentos. Por fim é importante também mencionar o problema
mais subestimado de todos, o ar condicionado. Tentamos evitar ao máximo as diferenças de temperatura, sobretudo em transportes e procuramos proteger-nos durante a noite de ventoinhas mal direcionadas. Existem ainda situações relativas à segurança rodoviária e às diferenças culturais que merecem um apontamento. No nosso caso, gostamos de conduzir em todos os países por onde passamos. Conduzir em Teerão, por exemplo, foi por si só um desafio, dada a quantidade de automóveis em contramão. Devemos ainda estar atentos à polícia religiosa (dos bons costumes) já que é exigido a todas as mulheres o uso do hijab e que os homens jamais usem calções, apesar do calor tórrido dos meses do verão. Resumindo, viajar de forma independente para destinos intrépidos é exigente e requer trabalho prévio de vários aspetos mas vale muito a pena até porque os imprevistos são o tónico das histórias de viagem.
Diogo e Filipa Frias
www.intrepidjumpers.com
Instagram: @intrepidjumpers
Atualidades na Medicina do Viajante
Casos de MPox em Portugal
Entre 3 maio de 2022 e 21 de fevereiro de 2023, foram confirmados 951 casos de MPox em Potugal. A administração de vacina, iniciada em 2022, já foi dada a 2.672 indivíduos. A maior parte dos casos possui entre 30 a 39 anos de idade e são do sexo masculino (apenas 9 casos no sexo feminino). Todas as regiões de Portugal Continental e Região Autónoma da Madeira reportaram casos, sendo a região de LVT a que apresentou maior número de casos (77% do total).
Surto de Shigella Sonnei com ligação a Cabo Verde
Este surto reportado a novembro de 2021 e com origem em Cabo Verde, teve 221 casos confirmados (e 37 casos possíveis) até 16 de fevereiro de 2023, em vários países da União Europeia, Reino unido e Estados Unidos da América. O ECDC fez uma avaliação de risco moderado de novas infeções entre os viajantes para Cabo Verde, particularmente os que tenham como destino a região de Santa Maria, na ilha do Sal. Em Portugal, até ao momento, foram reportados 2 casos confirmados com história recente de viagem a Cabo Verde. Em caso de suspeita e isolamento laboratorial da estirpe de Shigella, recomenda-se o envio para tipagem no INSA.
Febre Hemorrágica de Marburg na Guiné Equatorial
Este surto, reportado a 13 de fevereiro de 2023 pela OMS, na Guiné Equatorial tem 16 casos suspeitos e 9 óbitos. Na República dos Camarões, foram reportados 7 casos suspeitos, que testaram todos negativos, assim como o caso suspeito, recentemente detetado em Espanha, de indivíduo regressado da Guiné Equatorial. Apesar da gravidade da doença e elevada taxa de letalidade, a avaliação de risco realizada pelo ECDC considera que o risco de doença para os viajantes é atualmente muito baixo e há pouca probabilidade de importação de casos para a Europa.
FICHA TÉCNICA
|