Ano 8| Nr.84 | mar-abr 2023

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Editorial

Hesitação em vacinar 

As vacinas são uma das medidas de saúde pública mais custo-efetivas e são, frequentemente, elogiadas pelo imenso benefício que trouxeram ao indivíduo e à sociedade como um todo. Graças à vacinação a varíola foi erradicada e, a curto prazo, a poliomielite e o sarampo também poderiam ser se conseguíssemos aumentar as coberturas vacinais. Apesar do sucesso demonstrado, acredita-se que nos últimos anos, globalmente, tenha crescido o número de pessoas com hesitação em vacinar ou com recusa total em vacinar. A Organização Mundial da Saúde considera-a uma das 10 ameaças à saúde global.

 

A hesitação em vacinar pode ser entendida como um estado de indecisão e dúvida, na aceitação ou recusa de vacinas, apesar da sua disponibilidade e acessibilidade. Trata-se de um fenómeno complexo, variável com o tempo, com o local e com a vacina. Picos de hesitação em vacinar coincidem, habitualmente, com o aparecimento de novas vacinas, alterações das políticas de vacinação ou com o descrever de novos riscos associados a vacinas já conhecidas.


Alguns estudos referem várias categorias de indivíduos perante a atitude face às vacinas, que vão dos que promovem ativamente a vacinação, aos que recusam totalmente, passando pelos “hesitantes” e pelos que aceitam, de forma passiva, sem questionar.


Os indivíduos hesitantes em vacinar são um grupo muito heterogéneo: os que recusam umas vacinas, mas aceitam outras; os que aceitam vacinar, mas com esquema diferente do recomendado, quase sempre mais tarde; e os que recusam todas as vacinas. Estas diferentes atitudes perante a vacinação são, muitas vezes, influenciadas por más experiências anteriores com o próprio, familiares ou amigos. Outra importante razão é a perceção de risco perante a gravidade da doença e perante a segurança das vacinas. O medo da primeira promove a vacinação, o receio de efeitos adversos, favorece a não vacinação. O controlo de algumas doenças pela vacinação, sobretudo nos países de mais alto rendimento e com altas taxas de cobertura vacinal, tem contribuído para uma baixa perceção de risco e, diretamente, para aumentar a hesitação em vacinar. A comunicação social, pela amplificação das reações adversas graves, ainda que raras, das vacinas, contribui, indiretamente, para a não vacinação. As redes sociais facilitam a disseminação rápida de notícias falsas ou parcialmente verdadeiras, com grande impacto negativo na aceitação das vacinas.


Há poucos dados sobre hesitação vacinal em viajantes, mas acredita-se que a fraca perceção do risco das doenças associadas às viagens e o pouco conhecimento sobre as vacinas recomendadas, especificamente, a viajantes, contribuem para uma baixa aceitação por parte destes. Por outro lado, as indicações para vacinar são muito variáveis em função do destino, da duração e do tipo de viagem, além de que as recomendações emitidas pelas várias sociedades/organizações, nem sempre são coincidentes.


Os profissionais de saúde desempenham um importante papel na promoção da vacinação, quer da população geral, quer dos viajantes. De facto, os estudos são unânimes em afirmar que, no global, é na informação transmitida pelos profissionais de saúde que os doentes mais confiam e aqueles a quem procuram para esclarecimentos. Cada consulta do viajante é uma oportunidade única para esclarecer e promover a vacinação.

 

Luís Varandas, MD, PhD


Assistente Graduado Sénior de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, CHULC

Professor Auxiliar de Pediatria, Faculdade Ciências Médicas | NOVA Medical School, UNL

Professor Associado, UEI de Clínica das Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, UNL

 

 

Atualidades na Medicina do Viajante

 

Surto de Marburgo na Tanzânia

Com um total de 9 casos de febre de Marburgo e 6 mortes, aguarda-se a data de 31 de maio 2023 para declarar o surto extinto se mais nenhum caso for declarado.

 

Varicela no México

No ano de 2023 houve já no México mais de 12 000 casos de varicela, sensivelmente o dobro de casos declarados no mesmo período em 2022. De acordo com as entidades oficiais os estados com maior número de casos são o de Jalisco (1188), o estado do México (1087), a cidade do México (944) e Veracruz (700). O maior abrigo de migrantes em Juarez deixou de receber novas admissões de pessoas devido a um surto de varicela. Muitos dos afetados são crianças das Honduras.

 

 

 

FICHA TÉCNICA

Edição 
Direção da SPMV

Corpos Diretivos da SPMV
Direção 
Prof. Doutora Cândida Abreu
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto
Presidente

Dr. Dinarte Nuno Viveiros
Unidade de Saúde Pública, Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego
Centro de Vacinação Internacional, Coimbra
Vice-Presidente

Dr.ª Sandra Xará
Centro de Vacinação Internacional,
Centro Hospitalar Universitário do Porto
Secretária-Geral

Dr.ª Gabriela de Lacerda Saldanha
Unidade de Saúde Pública, Agrupamento de Centros de Saúde Tâmega I – Baixo Tâmega
Vogal Efetiva

Enf. André Silva
Centro de Vacinação Internacional, 
Centro Hospitalar Universitário do Porto
Vogal Efetivo e Tesoureiro

Dr.ª Gabriela Saldanha
Responsável de Conteúdos Editoriais

Mesa da Assembleia Geral 
Prof. Doutor Jorge Atouguia
Clínica de Medicina Tropical e do Viajante
Presidente

Prof.ª Doutora Cláudia Conceição
Instituto de Higiene e Medicina Tropical
Vice-Presidente

Dr. Rui Pombal
UCS – Cuidados Integrados de Saúde (Grupo TAP)
Secretário

 

 

Conselho Fiscal 
Prof. Doutor Saraiva da Cunha
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Presidente

Prof.ª Doutora Filomena Martins Pereira
Instituto de Higiene e Medicina Tropical
Vice-Presidente

Dr. Luís Malheiro
Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
Vogal

  

 

 












 

 

Supervisão e apoio Técnico Informático
Catarina Reis

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