Ano 9| Nr.87 | jan-fev 2024
Editorial
Sarampo: o aumento alarmante do número de casos
No corrente ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um aviso urgente de que a Europa enfrenta um "aumento alarmante" nos casos de sarampo. Foram reportados mais de 30.000 casos de sarampo pelos membros da região, entre janeiro e outubro de 2023, o que representa um aumento de mais de 30 vezes quando comparado ao ano anterior. Atualmente, existem surtos ativos no Reino Unido, Roménia e Áustria.
O ressurgimento do sarampo é, em grande parte, atribuído a um retrocesso na cobertura vacinal nos países da região europeia, sendo que a pandemia por COVID-19 impactou significativamente o desempenho do sistema de imunização neste período. Com a retoma das viagens internacionais, crescimento dos fluxos migratórios, conflitos armados e movimentos de hesitação vacinal, verifica-se um aumento de risco de transmissão transfronteiriça da doença.
Portugal apresenta, desde 2006, uma cobertura vacinal contra o sarampo ≥ 95% a nível nacional, tendo alcançado a eliminação do vírus no ano de 2013. Atualmente mantém a classificação, apesar do surgimento de casos esporádicos e surtos, nomeadamente em 2017 e em 2018.
Entre 10 de janeiro e 28 de fevereiro de 2024, foram identificados 9 casos de sarampo em Portugal. O primeiro caso foi confirmado a 11 de janeiro na região Lisboa e Vale do Tejo, importado do Reino Unido, e posteriormente um caso secundário num coabitante, ambos não vacinados. A 23 janeiro de 2024, na região Norte, confirmou-se o primeiro caso importado da região, sem histórico de vacinação e sem ligação epidemiológica conhecida aos casos anteriores.
O sarampo tipicamente manifesta-se por um período prodrómico ou catarral (febre, conjuntivite, coriza, tosse), associado a aparecimento de pequenos pontos na mucosa oral (manchas de Koplik), cerca de 1-2 dias antes do surgimento do exantema maculopapular. Este último surge entre o 3º e o 7º dia, inicialmente no rosto, seguindo-se para o tronco e membros inferiores, durando cerca de 4 a 7 dias, terminando ocasionalmente em descamação.
As complicações desta doença podem ocorrer concomitantemente ao exantema ou posteriormente, e incluem: otite média, pneumonia, laringotraqueobronquite, convulsões febris e encefalite.
A transmissão do vírus ocorre na sua maioria por via aérea (aerossóis), contacto direto com secreções nasais ou faríngeas de pessoas infetadas. Os sintomas habitualmente iniciam-se entre o 10º e 12º dia após contágio, podendo variar entre 7 e 21 dias. A sua transmissão ocorre desde 4 dias antes até 4 dias depois do aparecimento do exantema, sendo esta mínima após o 2º dia do exantema.
É importante realçar que as pessoas vacinadas apresentam um período de contágio inferior, menor transmissibilidade e habitualmente doença mais benigna. Doentes imunocomprometidos podem não apresentar exantema maculopapular e o período de contágio pode ser maior. Frisa-se que a apresentação da doença em doentes vacinados poderá ser atípica, sem quadro clínico completo.
Neste momento, de acordo com a Norma nº 018/2020 da Direção-Geral da Saúde, “Programa Nacional de Vacinação 2020", os viajantes que se dirijam para áreas de risco de sarampo ou rubéola devem atualizar o PNV de acordo com a idade: Se ≥ 6 meses e < 12 meses ter 1 dose (considerada dose zero); se ≥ 12 meses e < 18 anos ou ≥ 18 anos e nascidos ≥ 1970 ter 2 doses (antecipar VASPR 2, se necessário e com intervalo mínimo de 4 semanas); se <1970 ter 1 dose ou 2 doses no caso de profissionais de saúde.
Realça-se a importância dos profissionais de saúde da medicina de viajante para o reforço da vacinação destas populações.
Clarisse Martinho1,2 Francisco Aparício1 Frederico Flores1
1 Unidade de Saúde Publica Baixo Tâmega da Unidade Local de Saúde Tâmega e Sousa
2 Centro de Vacinação Internacional do Porto
Atualidades na Medicina do Viajante
A ELEIÇÃO dos novos Corpos Sociais da SPMV será no dia 16 de março, por voto eletrónico (indicações a seguirem oportunamente).
FICHA TÉCNICA
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